Americanas, empresa de 93 anos com lojas espalhadas pelo Brasil, surpreendeu a todos ao entrar com pedido de recuperação judicial devido a atrasos de pagamentos em cerca de US$ 8 bilhões.
Uma falência de US$ 8 bilhões é um evento que torna nosso trabalho como corretores de crédito comerciais especializados tão interessante.
O caso gerou amplo debate se a Americanas foi vítima de um erro ou autor de uma fraude. Recentemente, a empresa admitiu que houve fraude em larga escala.
A Coface Payment Survey 2023 afirma que os atrasos no pagamento parecem ser muito frequentes entre as empresas latino-americanas. Das empresas pesquisadas, 76% declararam ter sofrido atrasos nos pagamentos. Setorialmente, os varejistas foram o único grupo em que o número de empresas registou um aumento de casos (37%). Segundo estatísticas nacionais, os casos de insolvência na América Latina permaneceram baixos entre 2020 e 2022 (pelo menos para países onde há dados disponíveis, como Brasil, Chile e Colômbia).
No entanto, a situação no Brasil mudou drasticamente desde o início de 2023.
O número de insolvências de empresas em todos os setores e tamanhos aumentou 44% no primeiro semestre de 2023.
Qual é a razão para a forte deterioração no histórico de pagamento no Brasil e qual o papel que as altas taxas de juros/condições de crédito desempenham?
O Banco Central do Brasil (BCB) aumentou drasticamente a taxa básica de juros (Selic) de 2% para 13,75% em agosto de 2022. Isso levou a uma desaceleração da demanda doméstica e aumento nos custos do serviço da dívida para consumidores e empresas. Segundo estimativas do Santander (Santander Economic Research – Brasil), o total de novos financiamentos corporativos no período de janeiro a maio de 2023 reduziu 19,3% (ajustado pela inflação).
Em 21 de junho, os indicadores apontam a manutenção da taxa básica estável pela sétima vez em 13,75%. O Banco Central do Brasil disse que pode começar a cortar as taxas de juros em agosto. A perspectiva melhora à medida que a inflação anual se aproxima do alvo.
A Atradius projeta que o crescimento do PIB do Brasil desacelere de 3,0% em 2022 para 2,5% em 2023 e recue ainda mais para 0,4% em 2024.
A causa da desaceleração projetada deve-se aos efeitos tardios das altas taxas de juros locais, menor demanda externa e incerteza política decorrente da mudança de governo no início de 2023. Isso sugere que a inflação permanecerá alta, atrasando o início do ciclo de flexibilização da política monetária (é o que a Atradius espera para o último trimestre de 2023).
A Allianz Trade espera que o BCB corte a taxa de juros no segundo semestre de 2023. Segundo AU Group, os cortes podem chegar a 50 pontos base. No entanto, o Santander (Atividade Econômica Brasil junho de 2023) chama a atenção para uma resiliência inflacionária mais forte do que o esperado como um risco negativo, que pode levar o BCB a manter uma política rígida por mais tempo, resultando em desaceleração da atividade maior do que a esperada.